Diário de Classe Prof. Enilson

"Nâo tenho respostas, mas são diversas as perguntas... questiono, porque me é de direito, e obrigação comigo mesmo... Atuo, pois não sou covarde, não tenho medo de errar... o meu medo é de não fazer, e por isso SOU INCÔMODO... Se estou certo, ou você, só será justo o julgamento, quando ja passadas forem as gerações, que não possam tão intensamente sofrer efeitos de nossas decisões..."

sábado, 22 de agosto de 2009

Dias de luto e de luta


Artigo da Prof. Maria do Carmo Gautério
Autorizada a reprodução.
Roig, Alexandre, Ernani, Júlio, convocados!!!!


Notícias recentes, nos jornais e na televisão, nos informam que “em confronto com a Brigada Militar, em São Gabriel, um integrante do movimento Sem Terra foi morto”. Nas entrelinhas dos informativos, o que se lê é: Na luta pela terra, caiu mais um peão – segundo o dicionário LUFT, pessoa que anda a pé ou peça de um jogo de xadrez.


A bala do soldado foi a última a atingi-lo. Muitas outras foram dadas antes. Por isso, tentar responsabilizar unicamente o peão fardado que o derrubou é, mais uma vez, uma resposta hipócrita da classe dominante ao povo rio-grandense. E os comandantes? E o governo estadual que banca os comandantes e elabora a política que reprime todos os movimentos de luta? E os defensores deste projeto político que privilegia o capital em detrimento do trabalho, que se submete às exigências do Banco Mundial e internamente submete os rio-grandenses à face vergonhosa da corrupção e da repressão? Não são também responsáveis?


A luta do Elton era pela terra. E era também por espaço, por comida, por saúde, por educação, por trabalho, por “diversão e arte”. Era, então, a luta de muitos. Era a luta de todos os peões. Dos que já caíram e dos que ainda resistem, dos que vestem farda e dos que não se vestem. Desta luta, a versão espalhada pela grande mídia é a versão dos até hoje vencedores. A versão dos até

hoje derrotados é espalhada por quem os ajuda a gritar aos quatro ventos.


A morte de um peão pode ser banalizada ou ignorada pela sociedade do espetáculo. Seu protagonismo não está no palco, está no chão. Não está na novela, está na vida real. Não é virtual, é de carne e sal. Sua morte é apenas mais uma, em meio à violência cotidiana. É, de novo, o fim do velho “zé ninguém”. Em dias, estará esquecida. E os assassinos, que matam não só os rebelados, mas também as possibilidades e os projetos de vida de todos os que não se rebelam por medo ou por preguiça, continuarão impunemente sujando a História do Rio Grande.


Entretanto, as escolas públicas e particulares estão reabrindo suas portas e arejando suas salas que o medo da gripe manteve vazias por muitos dias. Outra vez, esperam suas crianças e jovens. Que as professoras, junto com a prevenção ao VÍRUS A H1N1, os recebam com os currículos enriquecidos pela versão dos derrotados na guerra contra a injustiça social. Que nas aulas de Matemática e de História, de Artes e de Ciências, de Geografia e de Educação Física, de Português e de Espanhol, os estudantes possam aprender coletivamente lições de cidadania e de democracia, de responsabilidade social e de motivação para a luta pelos sonhos de todos. Só então conseguirão realmente compreender o verso “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”.


Compreenderão também o elo existente entre a luta do Elton Sem Terra e a luta de todos os trabalhadores por uma vida digna.


Não ficarão indiferentes ao seu assassinato.


Tal como o peão-pescador, o peão-professor, o peão-bancário, o peão-comerciário, o peão-pedreiro, o peão-desempregado, saberão que o tempo é de LUTO. Na luta, morreu um peão.


Sirvam suas façanhas de lição a todos nós.