
A bala do soldado foi a última a atingi-lo. Muitas outras foram dadas antes. Por isso, tentar responsabilizar unicamente o peão fardado que o derrubou é, mais uma vez, uma resposta hipócrita da classe dominante ao povo rio-grandense. E os comandantes? E o governo estadual que banca os comandantes e elabora a política que reprime todos os movimentos de luta? E os defensores deste projeto político que privilegia o capital em detrimento do trabalho, que se submete às exigências do Banco Mundial e internamente submete os rio-grandenses à face vergonhosa da corrupção e da repressão? Não são também responsáveis?
A luta do Elton era pela terra. E era também por espaço, por comida, por saúde, por educação, por trabalho, por “diversão e arte”. Era, então, a luta de muitos. Era a luta de todos os peões. Dos que já caíram e dos que ainda resistem, dos que vestem farda e dos que não se vestem. Desta luta, a versão espalhada pela grande mídia é a versão dos até hoje vencedores. A versão dos até
A morte de um peão pode ser banalizada ou ignorada pela sociedade do espetáculo. Seu protagonismo não está no palco, está no chão. Não está na novela, está na vida real. Não é virtual, é de carne e sal. Sua morte é apenas mais uma, em meio à violência cotidiana. É, de novo, o fim do velho “zé ninguém”. Em dias, estará esquecida. E os assassinos, que matam não só os rebelados, mas também as possibilidades e os projetos de vida de todos os que não se rebelam por medo ou por preguiça, continuarão impunemente sujando a História do Rio Grande.
Entretanto, as escolas públicas e particulares estão reabrindo suas portas e arejando suas salas que o medo da gripe manteve vazias por muitos dias. Outra vez, esperam suas crianças e jovens. Que as professoras, junto com a prevenção ao VÍRUS A H1N1, os recebam com os currículos enriquecidos pela versão dos derrotados na guerra contra a injustiça social. Que nas aulas de Matemática e de História, de Artes e de Ciências, de Geografia e de Educação Física, de Português e de Espanhol, os estudantes possam aprender coletivamente lições de cidadania e de democracia, de responsabilidade social e de motivação para a luta pelos sonhos de todos. Só então conseguirão realmente compreender o verso “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”.
Compreenderão também o elo existente entre a luta do Elton Sem Terra e a luta de todos os trabalhadores por uma vida digna.